Quase oito milhões de brasileiros seguem trabalhando em home office, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um contingente muito grande de pessoas e parte deste pessoal deve continuar trabalhando em casa, mesmo depois da pandemia de coronavírus.
Não há consenso se o home office é positivo ou negativo para as relações de trabalho e para a vida pessoal do colaborador.
Isso vai variar conforme o ambiente doméstico, o tipo de ocupação, a remuneração e a personalidade do funcionário.
Mas uma coisa é certa: há uma estreita relação entre home office e excesso de trabalho, o que contribui para o aumento de relatos de depressão, sobrecarga (síndrome de burnout), pedidos de afastamento e problemas de saúde relacionados à alta exposição às telas, como irritação nos olhos e dor no corpo.
Em entrevista ao Jornal da USP, a pesquisadora Maria da Conceição Uvaldo, do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho e Orientação Profissional (Labor), afirma que a cobrança por produtividade pode levar ao esgotamento mental.
“O mundo do trabalho hoje é muito assim. Te suga, te provoca o tempo todo a dar mais e mais. Isso acontece não só em empresas tradicionais, mas em empresas ditas modernas, com horários flexíveis, e que acabam tendo exigências até maiores do que as mais tradicionais”, afirma a professora, por meio da assessoria de imprensa.
O home office, embora traga uma série de benefícios para o empregado – que não precisa mais enfrentar o trânsito e pode comer em casa, por exemplo – vem acompanhado de novos problemas que precisam ser enfrentados.
No domicílio, não há uma separação clara entre trabalho e emprego, sobretudo com crianças em casa.
Com isso, o funcionário acaba abrindo mão de alguns compromissos profissionais no “horário de expediente” para cuidar da casa e da família – afinal, essa é sua obrigação!
Ocorre que o trabalho não espera, e as obrigações costumam ultrapassar o fim da jornada convencional e entrar noite adentro. Sem perceber, o colaborador trabalha mais.
O contrário também ocorre. Trabalhadores muito assíduos conseguem se blindar no ambiente doméstico, fazendo apenas as coisas do trabalho. No fim do dia, filhos e animais domésticos entediados enchem o profissional de culpa, que não separou um minuto sequer para passear ou brincar.
A saúde mental pede socorro em qualquer um dos cenários!
Conciliação possível no home office
O excesso de trabalho na jornada em home office decorre justamente dessa confusão de tempos e espaços, conciliados com os tempos e espaços dos outros membros da casa e com as pressões que continuam vindo do emprego.
O medo de ficar desempregado é um outro drama, que faz com que o trabalhador se engaje mais do que o normal (e do que é saudável) para atender a metas e expectativas impraticáveis.
Já a quantidade de chamadas de vídeo pode provocar o chamado zoom fatigue – um esgotamento mental de conversas improdutivas, interrompidas por falhas na conexão e que exigem um tensionamento corporal muito grande – por mais que o trabalhador esteja de bermuda e chinelo.
Uma das críticas que se faz à glamourização do home office é justamente essa: o trabalhador perde sua identidade enquanto funcionário/empregado de alguém e passa a transitar em uma falsa sensação de liberdade, sem se dar conta da supressão de direitos e de que está trabalhando mais.
Também de nada adianta demonizar o home office: eis uma tendência que deu certo para muita gente, inclusive com ganhos em produtividade.
O ideal é sempre encontrar uma conciliação possível, que envolve acordos com os familiares e que garanta a participação na vida do trabalho e da casa de maneira saudável e sem culpas. Tudo é muito novo e o mais provável é que esta engrenagem se acerte. Enquanto este dia não chega, procure administrar suas tarefas com responsabilidade e leveza, entendendo que estamos em um tempo de exceção que, no fim das contas, vai passar.
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